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A SEGUNDA VIDA DO POVO BRASILEIRO

                Perdoe-me a generalização, mas a copa de futebol é a segunda vida do povo brasileiro. As ruas se vestem das cores da nossa ...

quinta-feira, 26 de junho de 2014

GÊNIOS DA BOLA

                Em 1986, Carlos Drummond de Andrade temia que a genialidade de Maradona pudesse nos tirar o título da copa do mundo. O baixinho argentino foi a estrela daquela copa. Era um gênio que fazia o tapete verde flutuar. Mas sempre vi no jogador argentino  arrogância,  prepotência e  desiquilíbrio. Isso tudo criava em mim uma antipatia cultivada a cada jogo, mas, principalmente, quando Dieguito Maradona abria a boca. A copa agora é aqui no Brasil e  outro argentino nos atormenta.
             Lionel Messi é o nosso mais novo algoz. Diferente de Maradona, Messi parece equilibrado, humilde e, melhor, fala pouco. Eleito quatro vezes o melhor do mundo, Messi não precisa de marketing como "El loco Dieguito". Os números estão do seu lado. O jogador portenho já é artilheiro da copa ao lado do nosso Neymar. Desse argentino eu tenho medo. Tenho medo porque ele não precisa falar, porque ele salva a Argentina da falta de objetividade do ataque. Tenho medo porque ele livra sua frágil zaga de insultos. Tenho medo porque ele não precisa da malandragem, tenho medo porque ele não precisa do desequilíbrio e muito menos da "mãozinha de deus", usada por Maradona.
                   Messi nasceu com uma bola na ponta da chuteira. A nossa sorte é que isso não é privilégio só dele.  Neymar também faz o tapete verde flutuar.   Que a taça fique em bons pés!

por Eduardo Tavares

A SOLIDÃO BATE À SUA PORTA


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 A copa aglutina línguas, crenças e raças. E, durante a copa, é justamente num estádio de futebol onde a cidade parece ser mais cosmopolita. Então como pensar em solidão num estádio de futebol? Parece inimaginável. Mas ela está lá. A solidão se revela diante das massas. Ela se revela num torcedor cercado pela torcida adversária ou diante de caras estranhas. A solidão pode estar dentro e fora do campo.
A solidão pode estar num homem que, alheio à copa, caminha livremente pelas ruas em dia de jogo da seleção brasileira. A solidão pode se aninhar àquele vigilante que escuta o jogo do Brasil pelo rádio. Ainda vejo a solidão no jovem que protesta contra o seu governo corrupto. A solidão pode estar encarnada no torcedor de Camarões que assiste à triste derrota de sua seleção contra o Brasil. A solidão pode estar no atacante que anseia pela bola do meio campista.

Mas vejo a solidão maior no olhar de Casillas, goleiro da seleção espanhola.  A goleada da Espanha  para a Holanda  fez de Casillas, para muitos, um antagonista da partida. É bem verdade que Casillas falhou. Porém o que mais me chamou atenção foi o seu olhar desolador entre os zagueiros que ficaram atônitos diante do mergulho de Van Persie,  e da artilharia de Roben, o atirador de elite. Não parecia haver zagueiros o acompanhando. Ele parecia estar só e, agora, diante da improvável e desconhecida derrota. A derrota é irmã da morte, o goleiro espanhol sabe disso. E a morte é uma experiência muito pessoal.  A seleção espanhola já arrumou a sua solidão e partiu.  O goleiro russo, assim como Casillas, também comoveu torcedores quando levou as mãos ao rosto depois que sofreu um gol da Coreia do Sul. Há ainda o goleiro da seleção portuguesa que chorou por sentir dores nas costas e não poder continuar na última partida de seu país. Nesta copa, a solidão parece ter batido mais à porta de cada goleiro, tipo de atleta detentor, injustamente, de momentos inglórios.